Desde 2018, a OMS passou a incorporar o vício em internet e jogos online ao quadro de doenças e problemas relativos à saúde mental
O avanço tecnológico na última década revolucionou o modo como vivemos. A internet e os jogos online tornaram-se uma parte intrínseca da vida moderna. Com smartphones e conexões de alta velocidade extremamente acessíveis, as pessoas estão cada vez mais conectadas online, seja para trabalho, entretenimento, compras ou interações sociais. No entanto, essa interconexão constante pode ter impactos negativos na saúde mental.
Em 2018, Organização Mundial da Saúde – OMS reconheceu na nova classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11): o descontrole ou uso abusivo de jogos eletrônicos, tendo em vista os prejuízos físicos, psicológicos e inter-relacionais causados ao indivíduo.
De acordo o psicólogo André Carneiro, especialista em Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), a relação entre saúde mental e o uso excessivo de internet e jogos online é complexa, com impactos negativos que variam de isolamento social a distúrbios de sono e estresse. No entanto, a conscientização e a adoção de estratégias de mitigação podem ajudar a minimizar esses impactos e promover um equilíbrio saudável entre a vida online e offline.
O Brasil está no topo do ranking internacional quando assunto é tempo de uso de jogos online. De acordo com pesquisas recentes realizadas pelo departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), 85% dos adolescentes nas idades entre 12 e 14 anos recorrem a jogos on-line e de videogame como forma de entretenimento diário. Ainda de acordo com a pesquisa, 28% dos quatro mil adolescentes entrevistados fazem uso excessivo de jogos on-line e videogames, caracterizando o Transtorno de Jogo pela Internet (TJI).
“O TJI pode ser descrito como um tipo de dependência comportamental em que o indivíduo perde o controle sobre o início e o fim do uso dos jogos on-line, assim como a intensidade e o contexto dos jogos. Com isso, há uma inversão de prioridades, em que a jogar torna-se algo urgente e outras atividades diárias tornam-se bem menos importantes”, esclarece o psicólogo André Carneiro, especialista em Terapia Cognitiva Comportamental (TCC).
Um dos principais problemas relacionados ao uso excessivo de internet e jogos online é o isolamento social. Quando as pessoas passam horas excessivas online, podem superar interações presenciais significativas, o que leva à solidão e ao isolamento. O fato, por sua vez, pode contribuir para problemas de saúde mental, como a depressão e a ansiedade.
Além disso, a dependência de jogos online pode levar a um ciclo vicioso de gratificação instantânea, prejudicando a capacidade das pessoas de lidar com o estresse e os desafios da vida real. “A constante busca por recompensas virtuais pode criar uma sensação de fuga da realidade, tornando a pessoa menos capaz de enfrentar problemas da vida real”, ressalta o psicólogo.
Outro grande problema relacionado ao uso excessivo de internet e jogos online é a alteração do sono. A exposição à luz azul de telas de dispositivos eletrônicos à noite pode prejudicar a qualidade do sono, resultando em insônia e distúrbios relacionados. A falta de sono adequado, por sua vez, também está associada a problemas de saúde mental, como a depressão.
Além disso, o estresse pode surgir devido à constante necessidade de estar on-line, responder a mensagens e manter-se atualizado nas redes sociais. A pressão para atender às expectativas virtuais e a constante comparação com outras pessoas pode levar a sentimentos de inadequação e estresse específico.
Estratégias para controle de uso e prevenção ao adoecimento mental
Um dos tratamentos mais indicados para pacientes com quadros de vícios em Internet e jogos online é a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), que consiste em proporcionar momentos e meios para que o indivíduo compreenda todos os aspectos que envolvem a dependência e crie condições para tornar possível o desenvolvimento e a retomada das relações sociais, porém no ambiente offline.
“O psicólogo ajuda o paciente a identificar os gatilhos que levam a desencadear o vício, proporcionando a substituição e mudando os interesses, auxiliando na busca por prazer e conexão fora do ambiente online”, explica o especialista André Carneiro.
Embora a relação entre o uso excessivo de internet e jogos on-line e a saúde mental seja complexa, existem estratégias para mitigar esses impactos negativos:
Defina limites de tempo: Estabeleça limites para o uso da internet e jogos online, reservando tempo para atividades offline e interações sociais.
Promova o equilíbrio: Enfatize a importância de um equilíbrio saudável entre o mundo virtual e o mundo real, incentivando atividades ao ar livre, exercícios e interações presenciais.
Conscientização e educação: Eduque seus entes queridos sobre os riscos potenciais do uso excessivo da internet e jogos online na saúde mental.
Procure ajuda profissional: Se você ou alguém que você conhece tiver problemas de saúde mental relacionados ao uso excessivo da internet e jogos online, não hesite em procurar ajuda de um profissional de saúde mental.
